quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A morte e a morte. Ou: Quem merece mais trato

O Ministro Marco Aurélio, do Supremo Tribunal Federal, não  cansa de repetir as seguintes palavras: "...Estamos em quadra de abandono a princípios, de perda de parâmetros, de inversão de valores, de escândalos de toda ordem...". Essas palavras são quase diariamente proferidas nas sessões plenárias do Supremo. 

Eu invoco as presentes palavras, para questionar o tratamento dado pelo Presidente da República para às mortes de duas grandes figuras. Ontem, de Senador da República, e hoje, de Ex-Presidente da Argentina.

Ontem morreu o Senador da república, Romeu Tuma. Figura polêmica no cenário político, mas respeitado pela maioria daqueles que o compõem. Tuma, nunca deixou de atuar como um policial contra o aumento da violência. "Uma Senador cordial e delicado" disse uma Senadora do PT em respeito ao seu falecimento.

Hoje, morreu o Ex-presidente da Argentina, Nestor Kirchner. Político da grande influência daquele país, elegeu a mulher, Cristina Kirchner, como sua sucessora.  Pretendia ele, no entanto, voltar ao poder nas próximas eleições majoritárias.

Tuma, no entanto, prendeu o então sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva, na ditadura militar. Como Lula mesmo rememora, o Senador foi muito humano com ele, liberando-o para visitar a mãe durante à noite - fato incomum na ditadura -, além de permitir que o sindicalista fosse ao enterro de sua ente querida. Entenda-se, descumprindo ordens dos seus chefes da época.

Nestor, não tinha entreveros com Lula. Ao contrário, compartilhava com os mesmos pensamentos do Ex-Presidente. Para o Presidente brasileiro, Kirchner era um "companheiro" que fortalecia a esquerda e a "união dos povos" na América do sul.

Pois bem, o chefe da nação brasileira, mistura sua vida privada com o seu cargo institucional mais uma vez. À Tuma, emite uma pequena nota em que lamenta a sua morte. À Nestor, decreta 3 dias de luto. Que valores são esses meu Deus do céu? E mais, não teve sequer a compostura de ir ao seu enterro já que tinha que comemorar o seu aniversário e promover a sua candidata à presidência.

Luto oficial significa que em todos os locais públicos a bandeira nacional será hasteada a meio mastro entre outros atos oficiais dignificados pela NAÇÃO BRASILEIRA. Para o presidente da nação, por uma razão pessoal, um Senador da república brasileira não merece tal dignidade. Já um Ex-Presidente de um país merece. Por questões pessoais é claro.


Critico muito Lula pela sua atitude institucional. Não se trata de uma crítica vazia e simplesmente envolvida de emoção. Não tenho qualquer preconceito em minha vida. O critico pelos fatos. Ele ter 1000% de popularidade simplesmente não me interessa. O fato é que ele não tem uma atitude institucional. De Presidente. Acha que o seu cargo tem "horário de expediente", que pode "eliminar inimigos", dizer mentiras à nação a torto e à direita. Aliás, esse nível de popularidade, é comum a outros Presidentes companheiros, tal como Hugo Chávez e Fidel Castro.


A inversão de valores que cita Marco Aurélio se dá nesses pequenos detalhes que vão passando desapercebidos pelos cidadãos. A história, no entanto, fará questão de contar esses detalhes. Quem está no meio do processo não tem tempo para se preocupar com isso. A cultura brasileira, infelizmente, não dá o devido valor a este tipo de atitude.


A morte? A morte é lamentável para os dois lados e famílias. Inevitável e única certeza da vida. Ao contrário do Presidente, decreto aqui luto oficial do Blog a um Senador. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário